sábado, 9 de junho de 2012

Função sintática: predicativo preferido.




Abro uma Coca-cola e escuto Juicebox,
Na tevê Johnny Knoxville fraturando o cóccix.
Mais tarde na festa cantadas por vezes ensaiadas
No fim um violão com as cordas meio desafinadas.
À noite sonhos com estradas e motocicletas,
De dia troco de pista sem ligar a seta.
Se me perguntares, ainda não escolhi minha profissão,
Mas que seja aquela que faça a Revolução.
Em meio a passeatas que eu não sei o motivo,
Qualquer motivo é digno de um riso.

Agora, próximo aos vinte e um anos,
A coisa que eu mais penso é no medo de pensar.
Medo de ser chefe de casa e pra tudo fazer planos,
Medo de ter filhos e, o pior, suas contas pra pagar.
Porque a gente pensa que pensa que pensar antes de tudo
É a coisa certa a se fazer no momento,
Mas nem se passa no nosso pensamento
Que talvez pensássemos melhor quando cabeludos.
Ainda que esse discurso seja guiado pelo sentimento
Pelo charme da juventude, eu confesso: me iludo.

Na verdade razão não é algo que combine com vinte e poucos anos.
Mas isso a gente esquece.
Esquece que vomitou no banheiro,
Esquece que foi ruim de bola,
Esquece que jantou sem dinheiro,
Esquece que faltou a escola,
Esquece de seguir nossas próprias idéias,
Esquece de dizer "fala sério pai" às vezes,
Esquece de fugir pelo portão dos fundos,
Esquece até que numa noite quente dessas de fevereiro,
A gente se amou numa cama de solteiro.

Esquece o que estava falando...
E a verdade é que talvez eu não estivesse falando nada.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Abuso gramatical




Há os que digam que gostariam de voltar ao útero
 E há os que digam que a qualquer um        útero, demasiadamente héteros.
 Sempre pensei em voltar ao útero                   como morrer de costas:
 Ir visitar a morte sem ao menos                        sorrir e, na verdade, sou bem cortês.
 Tentei com hábeis movimentos fugir               dessa linha
Tal que se encontra nas extremidades,      formando uma circunferência.
 Sim, eu gostaria de sair pela tangente,   escapar a essa continência.
 Mas sempre que eu me prendo          a cada momento,
 A cada pessoa, a cada                 música, a cada blusão, a cada cidade.
 Vejo a face da                       minha impossibilidade.
Talvez se                           um dia eu pulasse de paraquedas
Para                             não ser trocado na Igreja de Santa Maria.
                                         Estupraria essas palavras e diria em números
                                                  Como a vida é uma vadia.