sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Escrever com sono faz bem, é o vômito do bêbado: põe-se tudo para fora e depois se dorme tranquilamente.




Para ficar com mamilos tenros para esse verão, decidi entrar para a academia, não sou do tipo masoquista que sente prazer ao ver o braço quase explodir sob uma barra, mas eu gosto dos intervalos inter-exercícios. Minha natureza preguiçosa faz com que eu descanse muito entre as séries de exercícios e que eu passeie bastante entre as máquinas antes de finalmente me acomodar em alguma, sobrando bastante tempo para reflexões, em especial sobre o livro que estou lendo: Crime e Castigo, do Dostoiévski, cujo nome me enrola a língua e ao ser pronunciado o resultado é algo próximo à Doisdoiévis.

Um pensamento, na verdade uma perspectiva do Raskólnikov numa passagem ao final da primeira parte de seis me sobressaltou aos olhos. Em cuja, ele se enfurece ao saber da irmã, vulgo mercenária, às vésperas de casamento com um homem mais velho e bem-sucedido, Lujín. Mas não é com a irmã que ele se enraivece, e aí que está o contraste com o pensamento popular, mas sim com o noivo, que estaria, segundo ele, aproveitando-se de um desfavorecimento financeiro de Sonietchka, esse é o nome de sua irmã. Fiquei pensando sobre isso durante dois intervalos preguiçosos ao "leg press", que, diga-se de passagem, é mais confortável que o meu antigo sofá.

Deduzi, por fim, que o amor pode ser alienado, sempre que há envolvimento com alguém tendo em vista benefício financeiro ou social, vende-se o amor, mas não se redireciona, tornando o amor inutilizável, amputado, trancafiado, nunca podendo pertencer ao verdadeiro dono. E não raro isso acorre hoje em dia, porque amar deixou de ser uma necessidade, fazer sexo é uma necessidade, assim como sair à noite, se divertir, beber, manter os braços fortes e a vitamina com creatina, ignorando a alma faminta e o coração vazio.

Se amar deixa de ser uma necessidade, outras necessidades vêm à tona como a de se alimentar, se vestir e o casamento se transforma em contrato e o amor, em probabilidade de alta na bolsa. Não sabemos mais amar.

Qualquer um pode viver sem nunca ao menos ter dividido uma casquinha no McDonalds, brincado de cabaninha com a roupa de cama ou escrito um poema de duas estrofes, as grandes aspirações contemporâneas tem tijolos, maçãs ou cospem fumaça, são preocupações com coisas do cotidiano: moradia, eletrodomésticos, locomoção.

Assim são as coisas do cotidiano: quando há necessidade, se compra, nada mais natural, por acaso um grande comprador deveria receber um título de dignidade? A Forbes me é tão útil quanto o ranking dos meninos catarrentos da estratosfera de Plutão, que é um ex-planeta para deixar expresso o nível de insignificância. Pouco importa a diferença entre um castelo de cristal e um poleiro se está chovendo.

As coisas do espírito, em contrapartida, pode-se morrer sem nunca as ter experimentado, mas não se pode morrer tendo experimentado-as, pois elas que mantém o indivíduo vivo, tente se lembrar de quem era o homem mais rico do mundo na época de Aristóteles, Napoleão, Shakespeare ou ate Lennon e você vai entender o que eu estou dizendo, são todos homens que amaram alguma coisa, uma ideia, acima de todas as que podiam tocar e isso os mantém presentes até hoje. 

Após essa ladainha toda temo ter ficado chato, mas penso: o interesse é uma barganha, na qual vende-se tudo o que se pode ter, por tudo o que terá. Sonietchka terá uma vida confortável financeiramente, mas não ganhou isso, trocou por tudo o que uma mulher do século XIX podia esperar: um amor, trocou coisas do cotidiano por coisas do espírito, para Raskólnikov um negócio de Bangladesh (em oposição à negócio da China), mostrando já naquela época vocação especial para antecessora de Luciana Gimenez.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Caramunalha




Meu andar ébrio, à toa na rua,
Minha cabeça loira, já seminua
Não mostram diligência
E nem tampouco adolescência
Que pareceria mistura tão surreal.

Meu blusão desabotoado, manchado de café,
Meu dedão suado, como de quem anda a pé
Não mostram, eu confesso,
Nenhum sucesso,
Algo tão subjetivo que para mostrar não é preciso ter.

Meu desfecho, não tem nada de forte,
Não é uma conclusão, mas sim a morte
De um poema, que, assim como eu e você,
Só surgiu para falar alguma coisa.
Que não precisa rimar,
E não precisa ganhar,
Não precisa ser cristão,
Não precisa falar com o coração,
Basta dizer algo de mim,
Porque, no final, é o meio que justifica o fim.