segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Ensaio sobre o amor




O banheiro é realmente um lugar especial quando se tem doze anos. Ocupa o lugar de motéis e todo gosto de lugares imbuídos de alta sexualidade e não é de se admirar que os aromas "banheiris" gerem impressões tão fortes, seja  lavando a cabeça com Johnson's Baby ou então educando as axilas com Três Marchand, cujo cheiro me dá uma dorzinha satisfatória no peito, como que fosse um livro explicando a lógica por trás do sadomasoquismo.

Na ocasião em que usava Três Marchand estava experimentando as minhas primeiras decepções amorosas, era início do ano de dois mil e seis e eu estava talvez doente por causa de alguma paixão juvenil e como todos sabem, os doentes muitas vezes ficam internados e no meu caso fiquei internado em casa mesmo, no banheiro para ser mais preciso, por algumas semanas exposto à um tratamento mais comum aos adolescentes que as próprias espinhas. Na época, é claro que eu não percebia a beleza dessa cena, mas, se Proust estivava realmente correto, e ele tinha um bigode respeitável, esse é o amor na sua forma mais ariana: desilusão.

Proust disse: "só se ama o que não se possui completamente", ora, só se possui alguém por completo pelo amor, ainda que eu fosse uma espécie de rei Xariar pobre e comprasse minha esposa por vinte cabritos (desconheço o câmbio correto) eu só a teria por completo, se fosse por ela amado. Sendo assim, o amor não pode ser recíproco, ou você ama, ou é amado, inexistindo a simultaneidade. E algo que todos já devem ter observado é o quanto o encanto cai depois que vemos nosso interesse sendo correspondido, como se por análise e reposicionamento de sentimentos feito pelo diretor geral administrativo do destino.

O que mais eu posso dizer ser o amor além de um jogo de conquista? Ele nasce e morre sem se reproduzir e, talvez por ironia, reprodução é sua marca. O que há de surpreendente em abandonar ou ser abandonado? Se o amor é volúvel, enganador e libertino, o que seria o homem movido pelo coração e não pela razão?

A amizade, em contrapartida, é um sentimento mútuo de empatia gerado por semelhanças, interesses comuns e que une as pessoas muitas vezes pelo resto da vida. Eu me pergunto: não seria o caso de estarmos confundindo amor com amizade?

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