domingo, 19 de agosto de 2012

Vinte anos angustiados




Quando eu vou aprender a jogar bola?
A fazer alguns acordes na viola?

Quando eu vou beijar aquela menina?

Quando eu vou ser gente fina?

Quando eu vou aprender a me dirimir?
A dirigir? A me dirigir?

Acontece que eu até gostaria de fazer faculdade,
Mas é ela que está me fazendo.

domingo, 5 de agosto de 2012

Indivíduo por dois




E mais um vez, debaixo do meu nariz,
Me ocorre esta operação fracionária
Enquanto se assiste Meia Noite em Paris
Deitado bem no meio da sala.

Incenso ao meio queimando sobre a mesa,
Ao lado, uma folha rabiscada até a metade,
No meu petit gateau de sobremesa
Há muita cauda de chocolate.

Meia taça de espumante
Equilibrada na metade dos dedos
Que é para tragar qual um fumante
E esquecer de todos os medos.

No meio de julho, um banho bem gelado,
Afogando os outros seis meses
Que estão engatilhados.

Ao me perguntar se pronta a poesia,
Já me vem um certo receio,
Acontece que tudo na minha vida
É meio.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Como foi o meu dia sem você






Hoje, que encontrei com alguns amigos na pracinha, tiveram vinte minutos de pelada, tão logo prorrogados para trinta. Neles não se apercebia a bola a mim, minha atenção estava nos refletores e como eles passavam sobre a nossa cabeça enquanto a gente corria, certa vez pareciam dançar no céu, pois é, dançar! Feito eu e você. De todas as mentiras que eu disse, desde o "só mais cinco minutos" para o Kibe ao "peguei mal na bola", na tentativa de disfarçar um disparate futebolístico, a que mais dava na vista era "tudo bem", se não, a segunda, me veio agora a dúvida em mente, pois o chute foi péssimo, de verdade.




Como acabo de confessar três mentiras, portanto três erros, espero solicitamente que meus amigos me perdoem, espero mesmo, mas muito além disso, espero que aprenda a não errar mais, espero poder dizer somente a verdade no próximo jogo, mas acima de tudo, espero dizer "tudo bem", mas dessa vez de um forma diferente, adornado por um riso bobo, que você conhece tão bem.




Não hei de ser o único a cometer erros, o Igor hoje, como de costume, falou muitas bobagens, Lorraine, é uma pena você não ter visto quando ele bateu de costas no chão, mas teve algo que me deixou pensativo, você sabia que existem estrelas errantes? São sistemas solares que se perdem de uma galáxia e vagam sem rumo no Universo. Fico pensando, será essa o destino de todos os errantes? Vagar sozinho pelo Espaço? Hoje me senti tão aquém da conversa, dos amigos, do planeta, que me fez crer ser verdade e enquanto conversavam eu procurava no céu uma dessas estrelas para me certificar de que não era o único.




Nas comunidades primitivas a maior sanção aplicável a um membro era bani-lo e lhe deixar perecer e me vem sempre a cabeça, é justo? Condenar por todo o infinito um erro finito, por cem anos um dia ou ao inferno um mentiroso? Se me disseres sim, esqueça também esse tal cristianismo, pois nem se classifica em níveis os erros e nem se atira pedras neles. Quem disse isso foi o Diego, com suas teorias budistas insólitas, mas eu acho mesmo que ele estava puxando o saco do Neilon, esses caras são uns pândegos, disseram que o Paulete teve a noite mais agitada da sua vida hoje, na qual ele ficou até as 19h no Maninho e ainda comeu um Baconzintos, que tem sabor artificial de bacon, dali para um churrasco era um passo.




Na padaria surgiu um assunto, um tal de Barão de monte esquiei - acho que foi o Neilon, que esquiou quando ele foi ao Chile - falou: "Se a mulher nos ama, até as nossas insuficiências nos desculpa, mas se não nos ama, não desculpa nem as nossas prioridades.", confesso que me animei um pouco, até contei daquele dia, Lolô, da gente gritando no Burger King e depois todo mundo olhando para a nossa cara.




Bom, é isso, de repente me deu vontade de dividir o meu dia com você, como era de costume entre a gente. Vou te confessar, eu me sinto bem fazendo isso, é como se pegássemos uma lupa e ampliássemos até os momentos mais bobos do nosso dia, de forma que eles se tornasse importantes, como um filme de Nouvelle Vague, até o que era banal, se torna interessante. É isso! Me sinto um mocinho de um filme qualquer, qualquer, mas que é nosso filme.




Acho que esse é o resumo do meu dia, mas no fundo, o que foi esse dia se o meu dia e o seu são um só? Talvez um dia errante, que tal como suas primas estrelas vagam perdidos no Espaço-Tempo, a verdade é que tirar você do meu dia é como amputar um pedaço dele e os membros perdidos sempre coçam, se você quiser coçar, aí está, o seu membro perdido, o meu dia, que também é parte do seu dia.




Post-scriptum: Sou do tipo que não acredita que a ausência de erros tornam uma história bonita, mas sim a carga emocional posta nela - basta ver a Lagoa Azul para entender o que estou dizendo, mas você reparou como eu tenho acertado os acentos e a pontuação? Pois é depois de tanto tentar, escrever e reescrever o que eu venho sentindo eu acabei me acertando. E é bem verdade que a vida é assim também, a gente nasce seguindo os instintos mais imediatos, umas verdadeiras pestes, quebramos os brinquedos que gostamos, golfamos em cima das nossas mães, mas com o tempo a gente aprende a se comportar de maneira a não magoar quem amamos, na verdade - a própria religião é um aprendizado dessas coisas e talvez a vida. Eu sei, eu ainda tenho muito o que aprender, mas eu prefiro aprender junto com você.