segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Síndrome do Braço-Contracionismo Lateral

                                     



Em meados da década de 20, do século passado, Sigmund Freud, pai da psicanálise descreveu, em um de seus ensaios, trabalho inédito, os sintomas de um terrível distúrbio psicológico que vinha afetando pessoas das mais diversas classes sociais em todo o mundo, reflexo da massiva utilização de redes sociais como o Facebook e o Orkut, na época, Freud o nomeou Síndrome do Braço-Contracionismo Lateral ou, simplesmente, SBCL.

É provável que pareça ao leitor uma cena de filme de humor, ou terror, porém restou constatado que ao terem contato com qualquer espécie de luz frontal, como a dos flashes de câmeras, as vítimas da SBCL, automaticamente, se colocavam em posição lateral, forçavam um grande sorriso, porém forçavam ainda mais o braço que estava de frente para a projeção luminosa.

Uma das consequências dessa reação à luminosidade frontal era que muitos pacientes, portadores da SBCL, morriam ao atravessar as ruas, pois sorriam e forçavam o braço, mantendo-se estáticos, quando em contato com faróis de veículos.

A pior de todas as consequências, no entanto, dava-se ao disparar de máquinas fotográficas que estavam configuradas para a noite, com flash, pois, muitas vezes, essa fotos eram postadas na internet e se via claramente que o indivíduo estava forçando o braço, pois suas veias saltavam à garganta, sua face ficava avermelhada demais e o braço ficava em dobrado em um ângulo específico, que facilitava a contração.

Este distúrbio vinha arrasando populações inteiras, principalmente no Leste Europeu, a uma taxa crescente, só houve uma expressiva redução no número de mortes relacionados à SBCL quando o grande psicanalista inglês Donald Woods Winnicott desenvolveu um tratamento eficaz no combate a esta grave enfermidade, realizado em duas etapas: a primeira, mais difícil, consistia na exclusão plena do Facebook; após ter sido executada com êxito, poderia-se avançar para a segunda fase, na qual o enfermo deveria, basicamente, utilizando os termos técnicos, "tomar meia dúzia de tapa na cara", esses tapas na cara deveriam ser distribuídos apenas por um médico credenciado pelo Conselho Regional de Medicina, CRM.

É triste, mas, ainda hoje, algumas pessoas sofrem de SBCL, porém tal moléstia tem cura. Se você possui ou conhece alguém que seja afetado por esta terrível doença, consulte um médico.



quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Cicatriz

Era inegável desconforto:
o repto daquela máscara
que nem lhe servia ao rosto.

Que infeliz doença,
estranho sotaque ou
heroica aventura
- eu pensava -
conteria naquela perna nua?

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Você e a cidade




Você praça,
Acho graça.

Você rua,
Vejo nua.

Você prédio
É um tédio.

Você casa
Me apraza.

Você largo,
Desembargo.

Você museu
Foi quem benzeu.

Você poste
Me arroste.

Você estação
Me dê sua mão.

Vocês abrolhos
Tem dois olhos.

Você cidade
Hoje é saudade.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Soneto ao domingo ou Soweto aos domingos




Fumaça de churrasco
sublevando-se do terreno vizinho,
O CD do Soweto já foi repetido tantas vezes
que parece tocar sozinho.

Se Faustão está passando,
me traga um antidepressivo.
Se a cabeça já está na segunda,
isso só pode ser nocivo.

Assim como o medo dói mais que a vacina,
o domingo tende a ser pior que a segunda,
pois ele a absorve emaranhada nos cabelos da bunda.

Por isso odeio o domingo, um dia diferente:
com consistência de saco
e que já vem com um caralho na frente.

Quadrados




Gosto de comer barras de chocolate
Quadradinho por quadradinho,
Guardando sempre a outra metade,
E não acho isso uma banalidade,
Posto que nesses sessenta dias de férias,
Uma ociosidade disfarçada frente à tela,
São os quadradinhos mais gostosos
Que não me saltam à janela.

Um grande homem




É bem verdade,
Existem diversas formas
De ser um grande homem
E para sê-lo basta uma,
Eis a minha dificuldade.
Não sou o grande homem
Matador de baratas,
Nem tampouco o grande homem
Magnata.
Para grande homem
Namorador eu me saio uma piada.
E quando grande homem
Jogador, fui o pior da pelada.
Não consegui ao menos ser grande homem
Na estatura,
Meus um e setenta aos vinte e um anos de idade
E, se fosse Gandhi homem,
Não teria nenhuma serenidade.
Sendo assim não sei o que esperam de mim
Com esses olhos mitigáveis.
Que eu suba num trampolim
Ou coma até atingir dimensões consideráveis?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Acordes catatônicos





Polegar em Dó,
Dedos se atropelando 
E a mente desatina,
Todo o som
Agora é mescalina.

Indicador em Mi,
Dedos saltitantes,
A mão é bailarina
A vida por um instante
Se procrastina

Médio em Sol,
Mas chove lá fora,
Dedos pingam sobre o piano
Tudo o que foi escrito
Está fora do plano.

Cá tautologia há
Nos acordes catatônicos
Pois não há argumento,
Humano ou astronômico,
Para explicar o Dó no movimento.

domingo, 6 de janeiro de 2013

A primeira desilusão de todo homem que se preze




Foi forte o sentimento de desamparo que senti quando a minha avó, uma senhora aparentemente niilista, me contou que Papai Noel não existia, foi como o de um padre que se descobre ateu: "O que estou fazendo aqui com essa meia na janela? Essa meia não faz sentido! Esse mundo não faz sentido". Minha mãe, que por sua vez tem o costume de exagerar em tudo, comprometeu todo o orçamento de fim de ano pagando sessões de análise para mim e tivemos que passar o mês de janeiro comendo salsicha. Mas eu me recuperei, desilusões são males comuns na vida de qualquer pessoa e eu, que na época tinha apenas 27 anos, obviamente não podia entender uma coisa dessas.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

A invenção do homem e a invenção do homem




Erguem-se monstros cinzentos
Com dezesseis tubos de diafragma
Umas nações se ajoelham,
Outras são lançadas ao magma.
Mas, ao que parece,
O maior dos triunfos celestes
Consiste em ser uma espécie
De Thomas Edison.
Anos se passam néscios
E eis que a perfeição,
A onipotência e a onisciência
Se tratam de um viés,
Pois Deus criou o homem,
Mas o homem criou o jazz.