terça-feira, 21 de outubro de 2014

Para Raquel




Não amanheça nunca
Clamam todos os discos, amantes e filmes
Mas a manhã é mãe imperiosa
Como todos aqueles que a ilumine.

Se por minha natureza,
Aviltre de toda beleza,
O Universo me fez de sonhar às três
                 (É pecado falar em Deus hoje em dia)
Por que ei de acordar às seis?

Mas a mãe é manhã imperiosa,
Pontual, infalível e barulhenta como um rádio:
Me lasca infame à Leocádio.

E dá-lhe oito horas,
Meus olhos batendo epilépticos,
Peixes ardilosos fora d'água.

À dez eu faço uma reza,
Malévolo triturador torturando subversivo,
Mas não nego, não confesso, nunca vou me curar,
Porque no sonho guardo o teu calor, 
E tudo o que lhe é alusivo.