sábado, 10 de setembro de 2011

"Discurso! Discurso!"




Nunca gostei da ideia de progresso, não sei se a minha criação cristã; que já fora abandonada, mas ainda que se limpe a bunda resta o cheiro;  colaborou para isso com todos aqueles textos medonhos e pouco indicados para as crianças como os do Apocalipse, que anos mais tarde fui descobrir que se significa "revelações", quando para mim deveria significar "livro do Capeta" ou uma ideia que se funda a essa num caldeirão maldito.

Sou um anti-progressista, ou quem sabe um regressista. Sempre vi mais graça numa árvore do que num vídeo cassete, embora a primeira não tenha entrada para fita. Acredito que já passamos da linha que poderíamos considerar ideal de conforto e entramos num plano supérfluo e hipnotizante; como índios trocando imóveis por espelhos, somos nós trocando vida por Ipads. Uma réplica que provavelmente farão é que o espelho não conecta à internet.

Sempre que eu via Jetsons, ficava pensando na enorme chatisse que seria passados alguns anos: "caraca, no futuro não vou poder ir à praia!" ou "caso futebol não desapareça, vai ser jogado com uma bola eletrônica que não precisa ser chutada." e com todas essas maravilhas da tecnologia que nos prendem a atenção por horas tenho chegado à conclusão que não estou muito longe de ser um sr. Jetsons. O único ponto onde possivelmente eu possa ter errado nas minhas previsões era "futebol seria jogado com uma bola eletrônica", o que na verdade é uma falácia, pois ele não existe mais, foi substituído pelo Winning Eleven. Depois desse, não vejo mais crianças brincando na rua, de certa maneira esse pode ser considerado fato interessante para mim, que nunca aprendi a jogar bola.

Aliás, hoje que estou fazendo vinte anos, sinto que tantas coisas foram usurpadas de mim pelo computador e paredes de casa, que estou tendo uma crise precoce de meia idade, eu devia ter brincado mais de amarelinha, peão, pique-bandeirinha e, principalmente, salada mista. Coisas que me acrescentassem algo, que podia ser até um tampão do dedo do pé arrancado, mas que gerasse uma experiência mais profunda do que a de cutucar amigos no Facebook.

Se eu pudesse sintetizar meu pensamento em algumas linhas seria mais ou menos assim: "o nosso progresso foi além do conforto e necessidades básicas das pessoas e hoje em dia ele vive por nós. Nossos aparelhos nos dão uma sensação de interação, mas essa é tão superficial, que seria como se você fechasse os olhos e sonhasse com alguém e essa pessoa fizesse o mesmo. Não sei se vocês já tiveram um sonho sexual, mas ele não satisfaz em nada, pelo contrário deixa com mais vontade. Nossa geração vai morrer sem lembranças nem histórias, mas apenas com aspirações e desejos."

Eu tenho plena consciência de que eu deveria estar fazendo alguma coisa útil, ou pelo menos dormindo a essa hora da madrugada, mas é que hoje está difícil desconectar meu cabo Matrix. É engraçado como as redes de relacionamento são de desrelacionamento na verdade, porque, apesar de ter algumas milhões de pessoas online, falta com quem conversar, então é nessa parede de vinil que tento gravar minha voz mais uma vez.

Um comentário:

  1. Muito bom, cara! Desculpa a demora pra ler... Gotei muito desse! De verdade. Além do mais, concordo com vc nisso tudo... Parabéns! \o/

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