segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Rua Marcos de Macedo




Todas esquinas eram poucas
E todas as poucas eram iguais
Na rua Marcos de Macedo
Por todos aqueles Carnavais.

Aquela calça comprida,
Anéis e pulseiras demais.
Na cabeça, alguma fita
E penteados ornamentais.

E cadê você?

Sentara no meio fio:
"Quanta coisa mudou!"
Ontem, prendíamos o riso,
Hoje só se fala de amor.

A vida é uma escola
E, ele, repetira de ano
Nunca se apaixonara,
Não tivera suserano.

18:42h




18:42
Marca o relógio lá fora.
O Sol ainda não se pôs,
Que hoje tudo demora.

O ônibus me balança
Como uma punheta sem êxtase
E os bancos parecem todos soltos:
"Tum, tum, tum..."

Serei eu no seu coração?
Oh! Cruel inverdade!
Meus amigos me acusam de distorção,
Você, de intensidade.

domingo, 30 de setembro de 2012

Eu não sei amar direito




Mando mensagens
Que tu não lerás.
Paralinguagens
Como de animais.

Bem no patamar
Falo em tumulto.
Eu queria amar
Que nem adulto.

Não quero ligar
No dia seguinte,
Não posso esperar
Que você grite.

Quero te levar
Ao meu monema:
Assistir um bar,
Beber cinema.

Pego tua mão
Para te afagar,
Temo ouvir um não,
Eu não sei amar.

Quem sabe você
Ame um trejeito.
Mas eu que não sei
Amar direito.

domingo, 19 de agosto de 2012

Vinte anos angustiados




Quando eu vou aprender a jogar bola?
A fazer alguns acordes na viola?

Quando eu vou beijar aquela menina?

Quando eu vou ser gente fina?

Quando eu vou aprender a me dirimir?
A dirigir? A me dirigir?

Acontece que eu até gostaria de fazer faculdade,
Mas é ela que está me fazendo.

domingo, 5 de agosto de 2012

Indivíduo por dois




E mais um vez, debaixo do meu nariz,
Me ocorre esta operação fracionária
Enquanto se assiste Meia Noite em Paris
Deitado bem no meio da sala.

Incenso ao meio queimando sobre a mesa,
Ao lado, uma folha rabiscada até a metade,
No meu petit gateau de sobremesa
Há muita cauda de chocolate.

Meia taça de espumante
Equilibrada na metade dos dedos
Que é para tragar qual um fumante
E esquecer de todos os medos.

No meio de julho, um banho bem gelado,
Afogando os outros seis meses
Que estão engatilhados.

Ao me perguntar se pronta a poesia,
Já me vem um certo receio,
Acontece que tudo na minha vida
É meio.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Como foi o meu dia sem você






Hoje, que encontrei com alguns amigos na pracinha, tiveram vinte minutos de pelada, tão logo prorrogados para trinta. Neles não se apercebia a bola a mim, minha atenção estava nos refletores e como eles passavam sobre a nossa cabeça enquanto a gente corria, certa vez pareciam dançar no céu, pois é, dançar! Feito eu e você. De todas as mentiras que eu disse, desde o "só mais cinco minutos" para o Kibe ao "peguei mal na bola", na tentativa de disfarçar um disparate futebolístico, a que mais dava na vista era "tudo bem", se não, a segunda, me veio agora a dúvida em mente, pois o chute foi péssimo, de verdade.




Como acabo de confessar três mentiras, portanto três erros, espero solicitamente que meus amigos me perdoem, espero mesmo, mas muito além disso, espero que aprenda a não errar mais, espero poder dizer somente a verdade no próximo jogo, mas acima de tudo, espero dizer "tudo bem", mas dessa vez de um forma diferente, adornado por um riso bobo, que você conhece tão bem.




Não hei de ser o único a cometer erros, o Igor hoje, como de costume, falou muitas bobagens, Lorraine, é uma pena você não ter visto quando ele bateu de costas no chão, mas teve algo que me deixou pensativo, você sabia que existem estrelas errantes? São sistemas solares que se perdem de uma galáxia e vagam sem rumo no Universo. Fico pensando, será essa o destino de todos os errantes? Vagar sozinho pelo Espaço? Hoje me senti tão aquém da conversa, dos amigos, do planeta, que me fez crer ser verdade e enquanto conversavam eu procurava no céu uma dessas estrelas para me certificar de que não era o único.




Nas comunidades primitivas a maior sanção aplicável a um membro era bani-lo e lhe deixar perecer e me vem sempre a cabeça, é justo? Condenar por todo o infinito um erro finito, por cem anos um dia ou ao inferno um mentiroso? Se me disseres sim, esqueça também esse tal cristianismo, pois nem se classifica em níveis os erros e nem se atira pedras neles. Quem disse isso foi o Diego, com suas teorias budistas insólitas, mas eu acho mesmo que ele estava puxando o saco do Neilon, esses caras são uns pândegos, disseram que o Paulete teve a noite mais agitada da sua vida hoje, na qual ele ficou até as 19h no Maninho e ainda comeu um Baconzintos, que tem sabor artificial de bacon, dali para um churrasco era um passo.




Na padaria surgiu um assunto, um tal de Barão de monte esquiei - acho que foi o Neilon, que esquiou quando ele foi ao Chile - falou: "Se a mulher nos ama, até as nossas insuficiências nos desculpa, mas se não nos ama, não desculpa nem as nossas prioridades.", confesso que me animei um pouco, até contei daquele dia, Lolô, da gente gritando no Burger King e depois todo mundo olhando para a nossa cara.




Bom, é isso, de repente me deu vontade de dividir o meu dia com você, como era de costume entre a gente. Vou te confessar, eu me sinto bem fazendo isso, é como se pegássemos uma lupa e ampliássemos até os momentos mais bobos do nosso dia, de forma que eles se tornasse importantes, como um filme de Nouvelle Vague, até o que era banal, se torna interessante. É isso! Me sinto um mocinho de um filme qualquer, qualquer, mas que é nosso filme.




Acho que esse é o resumo do meu dia, mas no fundo, o que foi esse dia se o meu dia e o seu são um só? Talvez um dia errante, que tal como suas primas estrelas vagam perdidos no Espaço-Tempo, a verdade é que tirar você do meu dia é como amputar um pedaço dele e os membros perdidos sempre coçam, se você quiser coçar, aí está, o seu membro perdido, o meu dia, que também é parte do seu dia.




Post-scriptum: Sou do tipo que não acredita que a ausência de erros tornam uma história bonita, mas sim a carga emocional posta nela - basta ver a Lagoa Azul para entender o que estou dizendo, mas você reparou como eu tenho acertado os acentos e a pontuação? Pois é depois de tanto tentar, escrever e reescrever o que eu venho sentindo eu acabei me acertando. E é bem verdade que a vida é assim também, a gente nasce seguindo os instintos mais imediatos, umas verdadeiras pestes, quebramos os brinquedos que gostamos, golfamos em cima das nossas mães, mas com o tempo a gente aprende a se comportar de maneira a não magoar quem amamos, na verdade - a própria religião é um aprendizado dessas coisas e talvez a vida. Eu sei, eu ainda tenho muito o que aprender, mas eu prefiro aprender junto com você.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Um dia




Pôs-se a sentar no sofá com o dedo indicador marcando a mesma página trinta e dois da qual não sairia, sobre a mesa de centro, na qual estavam cruzadas suas duas pernas finas e descobertas, um velho cinzeiro retangular com um peculiar mapa do Brasil ainda com algumas guimbas de cigarro e, logo ao lado, um antigo vinil de Dave Brubeck ou algo assim. Na televisão passava Zelig, esses filmes com Woody Allen o deixavam tão confortável naquela saleta com a janela quebrada, o sofá já desbotado e o tapete, esse novo, espesso e macio, que Allen chegava a ter um papel maternal em sua vida; porém não prestava atenção em uma palavra do filme, as legendas passavam pelos seus olhos estáticos como transeuntes na Uruguaiana, sem serem notadas, agora ele só tinha uma coisa em mente.

Lembrara-se das palavras dela entre soluços: "Você realmente pensou uma idiotice dessas?". A verdade é que ele nunca se sentiu um par apropriado para ela e o fato de ignorar qualquer sinal de interesse que viesse da parte dela tão rigidamente que o fazia agir como um padre era zelo para com o seu pobre coração. Pobre como sua blusa manchada, como sua meia furada, pobre como ele mesmo. Seu relicário, que passara a maior parte do tempo vazio, agora a tinha, seus sorrisos, suas histórias, sua cara de boba, essa era a maior riqueza que ele já havia conseguido e era na verdade muita coisa para quem não possuia nada. Por que um camponês começaria uma revolução se agora já tinha um pedacinho de terra para sua subsistência?

Era ela a subsistência dele: todos os dias seu despertador tocava às quatro e meia da manhã Bistro Fada e quase sempre não havia mais do que dois dedos de leite para acompanhar o café, pensar nela o fazia abstrair de todas as sacolejadas do 384 ou das cotoveladas compulsórias que receberia e até mesmo da rotina chata do trabalho, seu chefe, um cinquentão de óculos que nunca conseguira nada além de uma casa própria na bairro de Bento Ribeiro no subúrbio do Rio e um carro Renault, que havia comprado novo, mas estava sendo usado fazia aproximadamente dois anos, se julgava um grande homem, de feitos mitológicos.

Ao bater o portão, ele sempre observava o céu ainda escuro e estrelado, achava bonito, por vezes tivera vontade de se livrar da opressão gravitacional e cair no espaço sideral. Era nesses raros momentos de liberdade que ele fazia planos, embora no fundo ele mesmo os achasse incredíveis, o divertiam mais do que qualquer peça ou filme; ele se imaginava morando em Paris, escrevendo romances, deitado na cama depois de meio dia e, é claro, abraçado com ela. Apenas abraçado, pois para ele a sexualidade não era a protagonista nas relações amorosas, gostava de passear de mãos dadas, de dividir um sorvete de casquinha e todas essas coisas tolas que os namorados costumavam fazer.

Passado algum tempo, ele riu inconscientemente lembrou-se dos dois cantando na chuva uma música da jovem guarda, era Olha do Roberto Carlos, mas ele não conseguia lembrar-se claramente da letra; lembrou-se depois do choro dela ao descobrir que o motivo da indiferença de seu admirador era a diferença deles, das palavras de carinho dela e de como ela lhe mostrava interesse e admiração, do jeito que ela o escutava tocar violão, com olhos atentos a lhe fitar. Então sorriu docemente. Por alguns momentos em seu íntimo havia a certeza de que nada seria mais normal do que realmente ela estar apaixonada por ele.

De repente ele saiu do transe, foi interrompido pelo telefone, estendeu o seu braço e o pegou com as pontinhas dos dedos médio e anelar, o trouxe para si e olhou quem o ligava àquela hora: era ela. Estaria também ela pensando nele? "Não. Isso já é loucura", pensou. Tirou os pés de cima da mesa e logo se pôs a ajeitar o corpo no sofá. Pensou em como cumprimentá-la, pensou em forçar uma rouquidão para encantá-la, olhou novamente para o telefone e, com um suspiro, o desligou. Novamente estendeu suas pernas, as colocou sobre a mesa de centro e voltou a pensar nela.

sábado, 7 de julho de 2012

Conversas de botequim igor-gabrielenses




É tão difícil uma definição para informação que, devido a essa pobreza de definições, arriscarei uma aqui: informação é uma disposição da realidade ou das ideias que pode ser apreendido em um conjunto chamado conhecimento. Portanto o ato de conhecer algo está para além do real, dos objetos e da matéria que observamos, o conhecimento não é uma abstração do mundo real, mas uma captação muito pobre das disposições, sejam materiais ou imateriais, constantes ou efêmeras.

Embora pareça pouco relevante, essa observação é de suma importância para a minha observação. Logo deduz-se que as informações não são retiradas de nós, mas sim nós somos retirados das informações. A cada segundo estamos substituindo nossos átomos, então não é possível me definir pela minha matéria, uma vez que está em constante fluxo e ainda não é possível fazê-lo pela disposição dos meus átomos, uma vez que se eu perco um braço ou uma perna eu não deixo de ser eu mesmo. Só nos resta dizer que somos informações concentradas em um ponto do espaço, quando morremos nossas informações são espalhadas e nossa pressão é dissipada sobre a grande área do Universo, tornando-se praticamente imperceptível.

Novamente voltando a exemplificar a ilustração, se nossos átomos estão em constante fluxo, podemos fazer uma analogia à um rio, tal qual Heráclito, e dizer que o nosso corpo está em constante fluxo tal qual as águas de um rio, não podemos um rio pelas águas, uma vez que estão em contante movimento, nem pelas margens, pois se o rio secar e só ficarem as margens, não o chamaremos de rio e nem tampouco pela sua disposição, já que se mudarem o rumo de um rio ele não deixa de o ser. Só nos resta definir um rio como um conjuntos de informações concentradas pelo Universo, na própria água do rio há uma série de informações, como sua composição química e nessa há a informação da formação dos átomos, então são incontáveis informações agrupadas em algo que definimos por uma palavra: rio e assim também somos nós.

Esse é um pensamento muito poderoso, pois quando penso que eu sou um aglomerado de informações e você é outro e nós dois um dia vamos nos desfazer por completo e nos reagrupar em outros seres e talvez estejamos reunidos em um ser ou até em vários daqui a alguns anos e que nós mesmos somos a união das informações de vários seres, a começar pelos exemplos materiais: o DNA de nossos pais, os livros que nós lemos, até os exemplos mais imateriais: as informações dissipadas no Universo que foram condensadas em nós reparamos que tudo está em constante contato, "tudo é relativo", relativo vem de relação, logo, tudo depende de uma relação.

Como disse Haramein, nossa impressão de que estamos separados das outras coisas se dá pela falsa impressão que temos do espaço, pois imaginamos um vazio que não há entre dois objetos, na verdade, o vácuo intergalático, que é o maior que conhecemos, a distância entre as moléculas é de centímetros e mesmo no vazio partículas são criadas e se anulam constantemente. A grosso modo tentar produzir matéria a partir do nada é bater na parede do vazio a fim de deslocar alguma partícula, nem o vazio é vazio.

Quando escrevemos uma música agrupamos informações, mas essa ordem vem de nós, que também somos um monte de informações agrupadas e ordenadas por uma outra informação, que rege o Universo, a informação de que H2O é a fórmula da água por exemplo. Logo só existe informação e energia, sendo a energia objeto da informação e a informação imaterial, porém todo o material é feito por ela, como o cubo existente, feito por pontos que não existem.

sábado, 9 de junho de 2012

Função sintática: predicativo preferido.




Abro uma Coca-cola e escuto Juicebox,
Na tevê Johnny Knoxville fraturando o cóccix.
Mais tarde na festa cantadas por vezes ensaiadas
No fim um violão com as cordas meio desafinadas.
À noite sonhos com estradas e motocicletas,
De dia troco de pista sem ligar a seta.
Se me perguntares, ainda não escolhi minha profissão,
Mas que seja aquela que faça a Revolução.
Em meio a passeatas que eu não sei o motivo,
Qualquer motivo é digno de um riso.

Agora, próximo aos vinte e um anos,
A coisa que eu mais penso é no medo de pensar.
Medo de ser chefe de casa e pra tudo fazer planos,
Medo de ter filhos e, o pior, suas contas pra pagar.
Porque a gente pensa que pensa que pensar antes de tudo
É a coisa certa a se fazer no momento,
Mas nem se passa no nosso pensamento
Que talvez pensássemos melhor quando cabeludos.
Ainda que esse discurso seja guiado pelo sentimento
Pelo charme da juventude, eu confesso: me iludo.

Na verdade razão não é algo que combine com vinte e poucos anos.
Mas isso a gente esquece.
Esquece que vomitou no banheiro,
Esquece que foi ruim de bola,
Esquece que jantou sem dinheiro,
Esquece que faltou a escola,
Esquece de seguir nossas próprias idéias,
Esquece de dizer "fala sério pai" às vezes,
Esquece de fugir pelo portão dos fundos,
Esquece até que numa noite quente dessas de fevereiro,
A gente se amou numa cama de solteiro.

Esquece o que estava falando...
E a verdade é que talvez eu não estivesse falando nada.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Abuso gramatical




Há os que digam que gostariam de voltar ao útero
 E há os que digam que a qualquer um        útero, demasiadamente héteros.
 Sempre pensei em voltar ao útero                   como morrer de costas:
 Ir visitar a morte sem ao menos                        sorrir e, na verdade, sou bem cortês.
 Tentei com hábeis movimentos fugir               dessa linha
Tal que se encontra nas extremidades,      formando uma circunferência.
 Sim, eu gostaria de sair pela tangente,   escapar a essa continência.
 Mas sempre que eu me prendo          a cada momento,
 A cada pessoa, a cada                 música, a cada blusão, a cada cidade.
 Vejo a face da                       minha impossibilidade.
Talvez se                           um dia eu pulasse de paraquedas
Para                             não ser trocado na Igreja de Santa Maria.
                                         Estupraria essas palavras e diria em números
                                                  Como a vida é uma vadia.            
             

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sinestesia




Um dia pensei que seriam cores
Os tons
Saídos das cordas do meu violão.

Nesse dia pintei atores
Nos quadros
Do meu som.

A menina muda falou quando sorriu
Que gostou do que viu
Porque soava muito
Bem.

O menino cego disse
Que tu não viste
Porque não escutaste
Bem.

Cada nota, uma foto,
Cada música, um filme.
Apavora-me o timbre.

Manhãs frias





De todas as fórmulas do amor
As manhãs frias sempre me fazem lembrar de você.

Suas mãos frias
Do ar na sala de informática.
O frio que vinha da janela
Na aula de matemática.

O casaco frio do colégio
Que não agasalhava.
O frio na barriga no prédio
Em que a gente se beijava.

O Sol frio
No caminho para a escola.
O quão frio eu tinha que ser
Para te passar cola.

O jeito frio que a professora falava
Fazia ninar.
A maneira fria que você me olhava
Na hora de terminar.

Incoerência referencial




Tive num estalo
O pensamento do futuro
É dia quando é claro
E noite quando escuro.

No espaço é sempre noite,
Por isso ninguém vai pra praia.
A parada é ir pra boite
E cair na gandaia.

Aqui em casa era diferente,
Mas aí a luz queimou.
Agora não assisto mais Tela Quente
Se for bagulho de terror.

Ensaio sobre o amor




O banheiro é realmente um lugar especial quando se tem doze anos. Ocupa o lugar de motéis e todo gosto de lugares imbuídos de alta sexualidade e não é de se admirar que os aromas "banheiris" gerem impressões tão fortes, seja  lavando a cabeça com Johnson's Baby ou então educando as axilas com Três Marchand, cujo cheiro me dá uma dorzinha satisfatória no peito, como que fosse um livro explicando a lógica por trás do sadomasoquismo.

Na ocasião em que usava Três Marchand estava experimentando as minhas primeiras decepções amorosas, era início do ano de dois mil e seis e eu estava talvez doente por causa de alguma paixão juvenil e como todos sabem, os doentes muitas vezes ficam internados e no meu caso fiquei internado em casa mesmo, no banheiro para ser mais preciso, por algumas semanas exposto à um tratamento mais comum aos adolescentes que as próprias espinhas. Na época, é claro que eu não percebia a beleza dessa cena, mas, se Proust estivava realmente correto, e ele tinha um bigode respeitável, esse é o amor na sua forma mais ariana: desilusão.

Proust disse: "só se ama o que não se possui completamente", ora, só se possui alguém por completo pelo amor, ainda que eu fosse uma espécie de rei Xariar pobre e comprasse minha esposa por vinte cabritos (desconheço o câmbio correto) eu só a teria por completo, se fosse por ela amado. Sendo assim, o amor não pode ser recíproco, ou você ama, ou é amado, inexistindo a simultaneidade. E algo que todos já devem ter observado é o quanto o encanto cai depois que vemos nosso interesse sendo correspondido, como se por análise e reposicionamento de sentimentos feito pelo diretor geral administrativo do destino.

O que mais eu posso dizer ser o amor além de um jogo de conquista? Ele nasce e morre sem se reproduzir e, talvez por ironia, reprodução é sua marca. O que há de surpreendente em abandonar ou ser abandonado? Se o amor é volúvel, enganador e libertino, o que seria o homem movido pelo coração e não pela razão?

A amizade, em contrapartida, é um sentimento mútuo de empatia gerado por semelhanças, interesses comuns e que une as pessoas muitas vezes pelo resto da vida. Eu me pergunto: não seria o caso de estarmos confundindo amor com amizade?

Morfologia voltada para o estudo das profissões




O advogado advoga,
O médico medica
E o ator, à toa.

O pedreiro quebra as pedras,
O torneiro opera o torno
E o banqueiro puxa o banco.